O Samba de Roda é baiano


O samba de roda é um ramo rítmico do samba, sua forma primordial. Ele provém da Bahia, e possivelmente foi criado no século XIX. É reconhecido justamente pela disposição dos sambistas em círculo; eles movem seu corpo de tal maneira, que todos os praticantes de capoeira aí posicionados acabam irresistivelmente aderindo à sonoridade deste ritmo.

Normalmente o samba tem início depois que são concluídas as rodas de capoeira, visando o entretenimento das pessoas aí presentes. Esta modalidade musical é repleta de disposição e de bom-humor, é o momento em que as mulheres revelam sua graça e voluptuosidade.

A musicalidade convencional nascida do sincretismo afro-brasileiro está ligada essencialmente à dança, vinculada intimamente, por outro lado, à capoeira, modalidade cultural que engloba luta, no mais puro estilo marcial, arte popular, música, ingredientes africanos e lúdicos, entre outros. O samba de roda é, portanto, executado ao som de pandeiros, atabaques, berimbaus, violas, chocalhos e, naturalmente, das vozes que cantam e das palmas vibrantes.



Este ritmo pertence principalmente ao Recôncavo Baiano, embora já tenha se disseminado por vários pontos do Brasil, especialmente pelos estados de Pernambuco e Rio de Janeiro. Os eventos mais aclamados, porém, se desenrolam no largo de Salvador; alguns terreiros de candomblé, como o da Mãe Alice, oferecem o melhor samba de roda do país, na sua expressão mais primitiva. Neste local é possível observar o desempenho de baianas célebres, entre elas Nita, Edinha, Marinalva, Joselita, entre outras, integrantes da conhecida Turma de Bimba, muito popular nas décadas de 50 e 60.

O Rio de Janeiro sempre foi tradicionalmente famoso por ser a capital global do samba brasileiro, pois nesta metrópole este ritmo se desenvolveu e conquistou seu formato atual, além de oferecer ao movimento negro um foco de resistência contra o tratamento cruel infligido pelas forças policiais e sociais do Brasil na época da escravidão.

A cultura negra era então considerada um insulto contra a moralidade da sociedade escravocrata, e por muito tempo, mesmo depois da libertação dos escravos, essa mentalidade persistiu. Seus ritos eram vistos como cultos ao demônio, principalmente a prática do candomblé que, de fato, era a real manifestação espiritual dos afro-brasileiros.



O samba provavelmente nasceu a partir de uma sonoridade popular na África, o semba; ele parece ter se estruturado sob a influência dos mais variados sons tribais deste continente. Deve-se considerar que os negros não constituem uma massa homogênea; esta raça abriga uma fantástica multiplicidade cultural, mesmo em solo brasileiro, principalmente se for levado em conta que os proprietários de escravos selecionavam ao acaso seus trabalhadores, mesclando, normalmente, tribos distintas.

Esta mistura foi também determinante na construção do samba no Brasil, pois seus criadores estavam localizados em um ambiente desconhecido e, muitas vezes, hostil, e eram obrigados a conviver com companheiros que detinham valores e culturas diferentes, ocasionalmente até mesmo antagônicos. O samba de roda guarda muito destes momentos iniciais, e detém algumas similaridades com o jongo, variedade de samba dançada ao som de tambores.


Por Ana Lucia Santana

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